Automodelismo de Fenda - Entrevista com 02 craques da personalização de carrocerias


Em comum não só o mesmo esporte, o Automodelismo de Fenda, também a personalização de carrocerias e a música como elemento de inspiração.

Parecem indivíduos distintos, mas são próximos, mesmo em países diferentes. Ambos foram plastimodelistas e iniciaram assim a aventura das pinturas em modelos, o brasileiro com as tintas apropriadas e específicas, o argentino com o que sobrou da pintura do apartamento com o pai para aproveitar o restinho, comum para a idade, 06 anos.

Nenhum deles tem a personalização como atividade principal.


Em sua veia humorística, José Carlos jura que essa foto ilustra sua profissão. Acho que ele é o que está com o rosto posicionado de frente para a câmera.



No chão que ele é ainda mais premiado, pois foi campeão brasileiro de pára-quedismo e sempre recebe troféus e medalhas no Automodelismo de Fenda.

Um parece descendente de espanhóis da região da Catalunha, daqueles que atendem 05 telefonemas, conversam carinhosamente com familiares, estão pessoalmente com clientes, ainda argumenta o ideal Catalão separatista, tornar Barcelona um país desmembrando-se da Espanha, reclama que trocaram o canal da televisão, pede para aumentar o volume da música que é linda e fica de olho nos funcionários, se emociona com os hinos anarquistas de enfrentamento ao generalíssimo Franco, tudo de uma só vez, assim, simples e fácil como sua comunicação, também o lance do cara é a A D R E N A L I N A, ele é instrutor de pára-quedismo há 30 anos, sempre mais e rápido, mais alto e mais veloz para repetir novamente. Por sinal, nossos parabéns ao José Carlos Aversa que comemora 51 anos com uma festoca íntima para 17 mil pessoas. Meu convite e dos leitores, seguidores e visitantes ainda não chegou, viu? Será que é assim mesmo? Puxâ, não estou nos apontamentos nem para 17 mil pessoas? Esse vestibinha se prepara para encarar as provas para Propaganda e Marketing no próximo mês, já influencia das pinturas. Pratica autorama há mais de 30 e conta faceiro que a vitória mais importante foi durante as Mil Milhas Brasileiras, em Interlagos São Paulo, paralelamente a prova válida pelo Mundial da FIA, em 2007.


O outro, Adrián Blanco, 28 anos é designer industrial, 1m e 80cm/s, tem o esporte da bola ao cesto como sua segunda predileção, namora todo orgulhoso uma brasileira. Ele têm raízes na Itália, boa parte da aristocracia argentina vem da “Bota” e da Alemanha como imigrantes fugitivos das 02 grandes guerras; diretamente de espanhóis, um pouco da França e é extremamente meticuloso, faz “briefing”, se reúne com os interessados em seu trabalho, anota tudo e analisa até o calçado de quem quer encomendar a personificação, traça um perfil do cliente e tem com exatidão quantos e quais automodelos já pintou, “80 fora os meus” assegura. Sua satisfação está desde a elaboração, inteirada com a execução até a entrega. Aos 11 anos comprou seu 1º kit, Lótus Spirit na escala 1/24 da Airfix, vieram outros 40, pintados com pincéis e sprays, alguns estão carinhosamente no site. Logo depois de se decidir pelo Automodelismo de Fenda, conheceu um arquiteto, Diego, que o presenteou com um aerógrafo, ora um amigo extraordinário. Comprou um compressor e assim iniciou sua história. Para Adrián, “Desafio é saúde para a criatividade!”.

Sem inspiração o primeiro tá nem aí, basta se concentrar, principalmente em viagens, ouvindo música. O segundo anda pelas enormes praças de Buenos Aíres, como um solitário a procura de uma dama que está logo ali mas não chega nunca para um romântico encontro, pondera que as vezes é importante passar um tempo sem se preocupar com a personalização, deixar o quadro mental vazio.

- “DJ, solta o tango, daqueles bem dramáticos!! Não se esqueça de pedir o obséquio ao garçon de um trago de um belíssimo vinho argentino!!”


Aversa tem frouxos de risos ao lembrar que a pintura de carrocerias de réplicas o fez aceitar fazer retoques em pintura de pára-lamas de motocicletas, pintar carrocerias estáticas, miniaturas de metal e rádio controle.

Como consequência do Slot cars, o argentino também já pintou carrocerias de rádio controle remoto, ferromodelismo na escala HO, dioramas e figura de mecânicos.


Temos de deixar claro que ambos são minimalistas a maneira de cada um, o brasileiro defende a maior simplicidade possível, o argentino a concepção de reduzir ao mínimo as informações para valorizar a estrutura do feito.

Pequena galeria de fotos das produções do Aversa:


Depois desse aquecimento, vamos a entrevista:

1 - O que é uma encomenda pragmática ou tradicional?

JCA: Uma encomenda rápida a ser realizada sem maiores dificuldades.

AB: As pessoas normalmente já conhecem meu trabalho. Alguns são clientes habituais, outros olham os carros já pintados e perguntam pelo autor, têm aficionados que chegam pelo website... e isso sempre facilita para que eles não falem muita coisa. O corriqueiro é que identifiquem o destino do carro: corridas de rally, GT, outros... só para ter uma coisinha diferente na vitrina, vitrine em francês; etc. Aí eu vou indagando as cores que eles gostam e elaboro um perfil do cliente.

2 - Quando iniciou com a pintura de automodelos de fenda? Lembra do primeiro e já foi profissionalmente?

JCA:
Fui plastimodelista por um bom tempo, sempre montei e pintei aviões, minha paixão, e também pintei muitas carrocerias em Lexan, bolhas, até pintar os meus próprios réplicas. Errei muito até chegar a uma boa qualidade em pintura. Hoje tenho muitas encomendas.

AB: O primeiro foi um Toyota Supra Ninco, esse foi meu primeiro automodelo quando adentrei no Slot. Ainda não tinha aerógrafo e pintei-o com aerossol na cor vermelha metalizada. Ficou bonito, mas agora com o aerógrafo a vida e outra! Poucos dias depois de ter pintado aquele carro um aficionado gostou e pediu que pintasse um Supra para ele, para participar da Copa Ninco e do campeonato de GT. Ele foi meu primeiro cliente.

3 - Existe algum tipo de ritual para que a inspiração flua?

JCA: Ritual não, mas preciso estar com a cabeça tranqüila e estar em harmonia, ou seja, mente e corpo voltados para essa finalidade!

AB: Só posso responder com a verdade: inspiração é uma dama misteriosa que aparece ou some quando ela tem vontade. Tenho que estar atento. Tem coisas e momentos que parecem ajudar para que ela venha, quando estou tomando um banho quente, escutando música ou depois de caminhar sozinho na praça.

4 - Que tipo de inspiração acredita que seja mais comum? Leitura, cinema, música, designer e artes, televisão?

JCA: Minha inspirarão surge sempre quando estou na estrada viajando, ouvindo música e com minha mente voltada a pintura que vou realizar, fico imaginando o carro pronto é ai que vem as idéias de como realizar uma boa pintura.

AB: Acho que a música ajuda muito e o porquê é que estimula o estado de ânimo. Também é muito importante esquecer da pintura durante uns dias, isso é, como esvaziar o quadro mental e pronto para enchê-lo novamente.

5 - Se houver uma proximidade maior com o proprietário ou com quem encomendou a pintura, mais fácil de perceber o que se almeja? O perfil do cliente influência de alguma maneira?

JCA:
Você tem que respeitar sempre a opinião e o gosto do cliente, nem sempre o que você pinta e do gosto do cliente uns são conservadores outros extravagantes.

AB: Com certeza. Eu tento sempre tirar toda a informação da pessoa. Olho seus automodelos para saber que estilos ele gosta, sua roupa, relógio, sapatos... tudo é relevante e descreve a personalidade.

6 - O que é mais comum, o contratante estipular cores ou fazer referências a forma de sua distribuição ou apenas se preocupar com os decalques ou patrocinadores?

JCA: Normalmente a pessoa solicita as cores e o desenho ele credita na minha inspiração, inclusive os decalques.

AB: Meus clientes têm uma louca tendência a acreditar que eu vou fazer algo bonito sem eles falar quase nada... jeje(Sorri enquanto responde). Alguns sugerem cores ou pedem um número especial para eles, mas não falam muita coisa. Eu não escondo que gosto mais de fazer o trabalho assim, com liberdade. Sou muito agradecido a eles por conceder isso.

7 - Qual o melhor trabalho a ser executado, quando não se escolhe sequer o automodelo ou a dificuldade maior é com a imposição da seleção das cores?

JCA: Sempre com imposição das cores. Como te falei nem sempre o que você acha bonito é do gosto do cliente ou o inverso. Mas quando você que escolhe as cores, o desenho e deixa a disposição das pessoas, depois recebe elogios ai sim! Essa é a melhor realização.

AB: A imposição das cores não é problema se eu gosto delas... se eu não gosto não aceito, peço reconsiderar e proponho idéias. Não escolher o automodelo e uma coisa boa porque em muitas ocasiões representa um desafio. Desafio é saúde para a criatividade.

8 - Tem alguém em quem se espelhe?

JCA: Sempre respeitei meus colegas de pintura, difícil espelhar em alguém, pois cada um tem seu talento, mas admiro muito os trabalhos do Nelsinho foi a pessoa que me deu muitas dicas sobre pinturas de réplicas.

AB: Não, nunca gostei de imitar nem olhar outras pessoas, procuro estimular minha própria criatividade.

9 - Em tua galeria de realizações, quais tuas principais obras?

JCA:
Uma Mclaren da Gulf. Ela esta aqui em Piracicaba, eu pintei a pedido do Karan, em 2007 que por sinal a Slot It lançou no mercado recentemente. Foi o meu melhor trabalho até hoje, ficou bonita que nem o dono deixou adesivar e guardou a sete chaves.

AB: Sou um critico exaustivo de meu trabalho, acredito que assim vou aperfeiçoá-lo. Cada obra tem detalhes e coisas que os fazem singulares. Para esta pergunta vou escolher dois automodelos que são muito especiais para mim porque marcam um momento de grande criatividade e realização. O Toyota GT1 Art Attack! e Toyota GT1 Delirio Nipón. Eles combinam a expressão artística com as técnicas de modelismo.

O Toyota GT1 Art Attack! foi feito em um momento de doida rebelião contra as decorações tradicionais. Peguei um pincel e as tintas acrílicas com as que pinto em lenço e improvisei sem temores. Esse carro foi sucesso absoluto e fiquei feliz porque as pessoas aceitaram uma decoração ousada.

A historia do Toyota GT1 Delirio Nipón é semelhante, foi concebida como uma obra minimalista ainda que muito complexa. Todos os detalhes foram feitos com pincel.

Ambos carros tem pintura branca Humbrol, o desenho com as cores e em cima da pintura a pincel receberam uma capa de laca bi componente PPG.

http://www.modelismocreativo.com/contents-decoraciones/toyota-gt1-nipon.html

10 - Qual foi seu trabalho mais engraçado? E o que mais curtiu fazer? Dados pitorescos?

JCA: Foi um Camaro com a pintura toda queimada, todo cheio de ferrugem, parecia carro de desmanche. Quando coloquei na pista todos riram muito e foi foto pra todo lado, mas o mais engraçado foi o piloto com o cigarro na boca. Pena eu não ter essa foto.

AB: Sempre tento curtir quando trabalho nos automodelos, mas ocorre que quando é trabalho para um cliente a responsabilidade de fazer tudo perfeito me faz sentir um pouco tenso também.

Acho que o automodelo mais engraçado foi o Porsche 956 ICEMAN. Ele foi feito para meu grande amigo Carlos, popular "Iceman". Ele me deu o carro e falou: "faz alguma coisa especial de mais..." Fiquei nervoso e em dúvida duas semanas até que a idéia de pintar os gelos chegou a mim. Quando o povo do slot conheceu o seu Porsche aplaudiu a idéia.



11 - O que é comum, contrariar as exigências de quem encomendou e ele ficar surpreso e satisfeito ou acatar parcialmente ou totalmente seu desejo?


JCA: Ficar surpreso. Como mencionei, nós conseguimos ver o carro pronto o cliente às vezes não. Quando pronto fica espantado, não quer usar pra correr , prefere guardar.

AB: Não vou mentir... acatar totalmente não existe no meu dicionário (sorriu enquanto respondia). Os clientes já sabem disso e sempre esperam alguma coisa imprevista. Tenho a sorte de agradá-los. Ainda assim, se alguém tem um pedido especial tento respeitar.


12 - Qual o trabalho que achou que não ficaria bom e o resultado foi significativo? Diria que foi acidental ou experimental?

JCA: Foi uma Mclaren da Slot It que pintei para o Brasileiro em Charqueada. Pintei em meia hora para meu filho, não tinha tempo. Errei nas cores e acabou ficando lindamente diferente. É referência e até hoje ela é admirada.

AB: Um experimento bonito foi um Porsche 911 GT1 pintado totalmente a pincel. O desenho é a bandeira da Alemanha que ocupa toda a carroceria. A intenção foi que a bandeira não fique real senão como uma pintura sobre lenço, com estilo pictórico, relativo a pintura ou imagem - o que se presta a ser representado visualmente. Para dar um acabamento excepcional esse carro tem duas capas de laca. Num começo eu acreditava que a idéia era legal, mas tinha medo de não fazer ele bem... a inspiração ajudou!

http://www.modelismocreativo.com/contents-decoraciones/porsche-deutsch.html

13 - O que é um trabalho perfeito?

JCA:
Primeiro satisfaz o cliente com a combinação das cores e verniz. Algo que o cliente diga “Esse vai para a coleção!!”

AB: Perfeição é um conceito que muda em cada situação... vou tentar dar uma resposta concreta. Um trabalho perfeito é aquele que cumpre com seu objetivo, que alcança o status de "perfeição" do destinatário, seja um cliente ou qualquer pessoa. A satisfação do destinatário é fundamental. Então, se faço uma decoração para mim vou ter minhas metas, se é para um cliente vai ser a somatória da sua satisfação como destinatário e minha satisfação como artista que executa a obra.

A conformidade do cliente reflete nas cores, o estilo, decalques e prolixidade. Minha satisfação é entender o que o cliente gosta, executar isso com prolixidade e sempre renovar minha obra, acrescentando também a qualidade dos processos e técnicas.

14 – Os clientes habituais deixam tudo por tua conta? Tem algum que consegues agradar apenas contrariando suas indicações?

JCA: Deixam ao meu critério e minha escolha. Eu já sei até as cores prediletas de cada cliente inclusive o desenho dos carros.

AB: Quase sempre eles me consentem as decisões. Quando pedem as cores eu sempre avalio para aceitar, mas o esquema é minha responsabilidade.

15 – O que é mais determinante, seleção das cores ou do automodelo de fenda?

JCA: Automodelo. Se não oferece um desenho que ajude no formato das pinturas, fica difícil você criar algo que combine, tanto no desenho como na pintura.

AB: O mais importante é a correta comunhão das cores para o automodelo de fenda num esquema adequado. Todo automodelo pode ficar bonito se é decorado com essa premissa.

16 – Em se tratando da carroceria, qual parte é mais fácil de executar, Teto, traseira, lateral, capô? E a mais difícil?

JCA: Mais fácil as laterais, mais complicado seria o capô e teto, pois tem que ficar liso, sem defeito. A parte de cima é que se observa mais.

AB: Não encontro diferenças, o que é trabalhoso é pintar superfícies a 90 graus, porque tenho que cuidar que o fluxo de ar e pintura seja adequado para evitar respingos, que escorra e procurar uma correta distribuição da pintura.

17 – Qual a cor que não escolheria de jeito nenhum para executar teu trabalho? Ela sozinha?

JCA: Todas as cores, com certeza, se bem trabalhadas ficam bonitas. Claro que tem que combinar.

AB: A cor marrom não tem lugar no meu mundo decorativo de hobbies.

18– E aquela que sempre que possível está presente?

JCA: As que não podem faltar, branca e a preta.

AB: Branca. Pode ser uma cor principal, secundaria, está presente em detalhes, linhas para dividir outras cores... e acontece que é clássico nos autos de competição.

19 – O que seria tua marca registrada no que tange a configuração das distribuição das cores ou desenho? E as cores?
JCA: Meus traçados são simples, em formas triangulares e divisões das cores em tom sobre tom.

AB: Eu faço um grande esforço por me renovar. As idéias e a criatividade são fundamentais. Isso é o que faz aos clientes voltarem sempre, eles sabem que sempre vou procurar novos estilos, decalques de auspícios novos, pinturas de alta qualidade, etc.

Posso referir a uma marca registrada, como coisa que é de minha autoria e não vai a ver em outro decorador, em meus filetes. Faço-os com pincel ou com aerógrafo. Com o segundo método corto máscaras que aplico na carroceria. Dois exemplos são o Maserati MC12 Ibiza e o Toyota Tom’s Test Car.




20 – Quanto às fábricas de Slot cars, existe uma marca melhor para se trabalhar?


JCA: Preferencialmente, Slot.It, posteriormente, SCALEXTRIC e NSR. A SCX vai bem também.

AB: Quanto melhor seja a qualidade da carroceria melhor vai ser trabalhar nela. Outra coisa boa é ter modelos como Slot.It e Avant Slot que tem kits com plástico virgem, sem pintura. Ninco tem kits, mas eles têm pintura branca que tenho que tirar para aplicar a base aderente.

21 – Melhor, bolha, plástico ou resina?

JCA:
Sem dúvida alguma, os de plásticos.

AB: Plástico e o que eu gosto mais. Resina tem que ser trabalhada previamente para fechar poros e imperfeições. Se a resina é de muita boa qualidade gosto.

22 – Utiliza algum ambiente de trabalho no computador para ilustrar o que espera realizar?

JCA: As vezes recorro ao computador para algumas consultas. Ferramenta de fundamental importância quanto aos decalques, pois muitas vezes tenho que fazê-los.

AB: Gosto mais de desenhar num papel, minhas mãos não gostam de intermediários... As vezes uso Photoshop para avaliar combinações de cores numa foto do automodelo. Também faço desenhos em papel e depois tiro a imagem digital no scanner para editar os decalques.

23 – É difícil acertar a compreensão de sua criação? Tem que argumentar muito?

JCA:
Até o momento nunca tive problema algum, sempre que argumentei houve anuência por parte do cliente.

AB: Só as pessoas que gostam de tradições, antiguidades e não se abrem as novas possibilidades podem indagar alguma coisa, mas conversando um pouquinho dos argumentos da decoração acabam por entender. O importante não é que gostem de todos os estilos, mas que possam valorar as diferenças e que entendam os fundamentos. O entendimento é a mais importante base para poder dar valor ao trabalho das pessoas.

24 – Há clientes em que buscam interatividade até a conclusão do trabalho? Geralmente são os mais ansiosos?

JCA: São raros, mais tem! Alguns querem ficar durante o processo de pintura em período integral e essa interatividade acaba atrapalhando, por isso gosto de ficar só, sem ingerências.

AB: Sempre falo para meus clientes que minha profissão é outra e que faço as decorações em meu tempo livre. É importante para que saibam que vou demorar. Adicionalmente explico que a criatividade tem seu tempo, pode chegar hoje ou dentro de duas semanas, nunca sei.

Quando são pessoas muito ansiosas, eu tento tê-las informadas, ligo para avisar que o trabalho tá perto, passo e-mails é assim. Conhecer a cada cliente e dar atenção e importante demais, considero que isso também é parte do serviço.

25 – Existe algum tipo de adaptação de cores ou material entre o automodelo de fenda que disputa corridas de velocidade para os que competem em provas de longa duração? Exemplo: provas noturnas cores claras ou tintas fosforescentes? Digamos que pintou uma Ferrari analógica, caso produzisse a mesma Ferrari ora Digital, faria alguma diferença? Levas em conta os faróis? A Ferrari 360 é um carro também utilizado em rally, essa mesma Ferrari seria produzida diferente do que uma de velocidade ou endurance – longa duração?

JCA:
Logicamente que o cliente solicita as cores que melhor facilite para distinguir seu carro, isso tem haver com o piso da pista que ele utiliza. Quanto as corridas noturnas normalmente se apagam as luzes e não tem recurso quanto as cores, segui-se pelas luzes dos carros, luminosidade insuficiente para destacar as cores. A produção em série, as pinturas são iguais, nos favorece. Já aconteceu de um cliente encomendar as cores e os patrocínios de um carro que é de rally, personaliza e pinta nos GTs, por exemplo.

AB: Uma coisa tão doida como engraçada foi a pintura de um Porsche com tinta reflexiva e pó fosforescente para corridas de velocidade noturna. Eu corri sem luzes. Quando trocavam de fenda o automodelo, um amigo carregava os pigmentos fosforescentes com uma lanterna.

A respeito da questão dos faróis é bom sempre tê-los em conta, cada elemento do automodelo deve ser levado em conta. Fiz uma Ferrari 360 SCX com os faróis amarelo fosforescente. Ficou como um auto de endurance e os faróis têm contraste com a pintura branca do frontal do carro.

26 – Já aconteceu de um cliente elogiar o trabalho, fazer uma insignificante observação e retomou?

JCA: As vezes sim. Mas como te falei você acaba explicando e ambos acabam satisfeitos. Nós enxergamos o carro pronto, é raro quando o cliente opina, mas acato sim e reconheço que ficou melhor ainda.

AB: Sim, eu sempre ensino detalhes e dou fundamentos do esquema e as cores. Conversando eles tem perguntas e eu tento dar respostas para que entendam o porquê das decisões. É o automodelo deles e devem saber.

27 – Em percentual, qual a participação de um cliente na concretização, pede ou exige alguma coisa, quer seja desenho ou cores? Eles mais concordam ou discordam? Enfim, a participação do cliente tem papel preponderante ou depende do clinte? Melhor o exigente ou o que tens que cobrar informes para realização? O indeciso, obrigatoriamente é sempre o mais ansioso?

JCA:
Diria que pouco menos de 3% dos clientes tem participação. Quando chegam com maluquices vou logo abrindo o jogo com bom humor, “me nego, recuso terminantemente a fazer essa pintura”. No final eles sempre concordam entre risadas. Geralmente só solicito as cores e ai fica sob minha incumbência.

AB: O percentual é pequeno, eles confiam em meu juízo. Geralmente pedem alguma cor ou falam das cores que não gostam. Eu sempre dou a opção de colocar um decalque com seu nome no automodelo e que escolham o número.

Se o cliente é ansioso mas respeitoso não é problema, eu vou informando detalhes para que ele fique tranqüilo, sabendo que estou trabalhando. Tenho a sorte de que todos, os ansiosos e os calmos, são muito respeitosos e generosos comigo, esperam com muita paciência.

28 – Tem cliente que concorda com tudo, mas quer sempre ser consultado, ainda que nada que ele tenha sugerido se concretize?

JCA: Existe toda uma metodologia para atendimento de clientes, cada um tem sua particularidade. Antes de aplicar o verniz, em cada fase da pintura, costumo encaminhar fotos através de e-mails. Caso esteja no agrado do cliente, aí sim finalizo!!

AB: Os clientes depositam muita confiança em mim. Eles sabem que eu tento sempre elaborar um perfil deles. Alguns quando me conhecem falam muito porque ainda não sabem como é que vou elaborar o que eles querem. É natural e para mim é legal porque escutando eles falarem posso saber o estilo de automodelos que gostam e outras informações.

29 – É comum pinturas para competir somente em um determinado tipo de circuito? Talvez buscando harmonia com a cor em que a pista é pintada? Já foi consultado quanto a produção visual, adoção de cores, de uma pista?

JCA: Normalmente é solicitado as cores que melhor o cliente se adapta em relação ao piso da pista.

AB: Ainda não tive um pedido assim. O mais freqüente em relação as pistas e competições é incluir patrocinadores de marcas e o nome da pista de Slot que sediam as provas.

30 – Quando pinturas acidentadas exigem retoques, manutenção? Vai mais da exigência do dono?

JCA:
Há danos na pintura, acidentadas ou não, as vezes, como você chamou em um artigo, tem os “Kid Reta” que se esquecem da curva, e em acidentes que até removem a tinta. Há de se retocar as partes plásticas danificadas, pelo menos maquiando para que não ressalte o defeito. Porém, tem carrocerias que chegam tão danificadas que não tem muito o que fazer, ai em comum acordo com o cliente, você faz o menos pior possível para reparar.

AB: As vezes os automodelos sofrem nas corridas e a laca se rala. Para isso tenho produtos 3M de ótima qualidade e com muito cuidado pode ficar bem. Sempre falo para os clientes que meu serviço tem atenção de post-venta. Se um dia precisam de manutenção eu faço de graça.

31 – O que sugeres como melhores cores para se trabalhar?

JCA: Particularmente, gosto muito das cores laranja, vermelha, amarela e cores metálicas como azul, prata e vermelha.

AB: A melhor cor é aquela adequada para cada automodelo e estilo desejado pelo cliente. O importante não é cada cor em sí, é a combinação e a distribuição das cores na carroceria.

32 – Tem cores que ressaltam a beleza e plasticidade do automodelo? Esse fator também pode ser considerado na tentativa de sobressaltar os patrocinadores? Em caso de respostas afirmativas, como juntar essas possibilidades?

JCA: Ocasionalmente, deparo com um automodelo de fenda que as cores do patrocinador despontem a plasticidade da carroceria, ainda mais quando temos de obedecer as cores do patrocínio como predominante.

AB: Eu sempre falo da correta distribuição das cores porque isso pode fazer que um automodelo mude radicalmente. As cores obscuras no teto geram sensação de que o carro é mais baixinho e assim tem infinidade de recursos para considerar.

Como eu faço meus próprios decalques os patrocinadores sempre vão em harmonia com o esquema das cores do automodelo.

33 – Já aconteceu de produzir um auto e de repente ficas com vontade de tê-lo, tanto faz se para coleção ou competir? E o cliente que ao invés de utilizar em corridas prefere guardá-lo como item de coleção?

JCA: Na grande maioria das vezes. Quase sempre queremos não andar para proteger as pinturas, mas argumento sempre com os clientes que pinto novamente, bora andar. Tem uns que ficam irredutíveis.

AB: Sempre! Muitas vezes fiquei pensando "que vontade de adicionar esse automodelo na minha vitrine..." A verdade é que esse trabalho me ensinou a praticar o despreendimento. Os artistas da Índia fazem desenhos e depois os destroçam como pratica disso. Eu tenho sorte porque a obra vai com uma pessoa que vai cuidá-la.

Uma coisa que acontece muito é que os clientes pedem uma decoração para as competições e quando recebem o automodelo em perfeito estado decidem não usá-lo para as corridas, resguardando a pintura.

34 – Mais ensinas que aprende com seus clientes?

JCA:
Sempre aprendi muito com a minha clientela. É uma relação de confiabilidade, portanto, procuro interagir com eles, passando tudo o que faço, não escondo nada, mesmo sabendo que, momentaneamente, vão discordar.

AB: Ambas. Ensino critérios de trabalho, ordem, prolixidade. E sempre dou muita importância a prestar uma boa atenção. Acho que isso e muito valorado pelas pessoas. E essa é minha possibilidade para agradecer por a confiança e generosidade dos clientes comigo.

Aprendo com eles a conhecer a perspectiva de outras pessoas. Que estilos gostam e o porquê, a forma em que querem ser atendidas, que coisas são mais ou menos valiosas para eles.

35 – O que recusaria a fazer está relacionado a que quesito, cores, desenho, associação com patrocinadores?

JCA: As combinações das cores! É o que mais me debato com os clientes, tento convencer do que fica melhor e normalmente acabam aceitando.

AB:
Recusaria a pintar um automodelo marrom! E sem dúvida que não aceito fazer um esquema ou combinação de cores se eu achasse errada. Mas isso sempre pode ser conversado com fundamentação e o cliente recebe outras opções para escolher. Recusei pintar um Peugeot Silhouette como um táxi, isso é inadmissível para mim, coisas assim não faço.

Não gosto de pintar réplicas, fiz isso só uma vez com um carro famoso aqui na Argentina. Com os trens de um cliente faço réplicas porque ele não as consegue de nenhuma forma. Ele é uma pessoa apaixonada pelo ferromodelismo e gosta das decorações das linhas argentinas. Como ninguém fabrica isso eu pinto para ele. Merece, é uma excelente pessoa e um verdadeiro apaixonado, não pintar seus trens é negar a ele a possibilidade de ter o que mais gosta.

A outra coisa que tento evitar
é usar patrocinadores de cigarros. Só uma vez usei decalques de uma marca dessas porque o cliente pediu isso exclusivamente.

36 – Já aconteceu de depois de pronto achar que uma simples troca na estética da roda poderia deixar o automodelo ainda mais bonito? Feita a substituição, projetou alcançar outro patamar com a pintura das rodas?

JCA: Recentemente pintei um carro em preto fosco, cujo patrocínio é azul luminoso e o cliente queria as rodas em laranja, mas não combinou, trocamos pela cor branca e ficou lindo.

AB: Às vezes pintei as rodas com uma cor presente na decoração. Também aplico laca nas rodas para que a pintura fique protegida. Outras vezes falei ao cliente que troquei as rodas para uma melhor apresentação do produto, fazendo sugestão de alguma roda bonita.

37 – A pintura estética, buscando exclusivamente embelezar, pode ser também um auxiliar na estratégia de marketing? -

JCA:
Com certeza! Uma pintura que chama a atenção das demais sempre resulta no olhar crítico do público, essa é uma boa estratégia de marketing, sem dúvida. Uma pintura que realce as linhas do automodelo e também ao patrocinador, logicamente fixará na mente e ai sim, conquistou teu propósito. Recentemente, pintei um NSR com a marca de um refrigerante zero, a pedido do cliente, e digo desponta a atenção mesmo.

AB: Sim, existem muitas possibilidades e todas devem ser tomadas em conta.

38 – Teu trabalho já foi recusado alguma vez?

JCA: Felizmente não, mas entenderia se houvesse alguma rejeição, pode até ter ocorrido, mas não veio ao meu conhecimento. Se ficar exposto em alguma vitrine dos lojistas foi rejeição.....

AB: Tenho sorte, isso não aconteceu. O que ocorreu é que tempo depois venderam o carro a outro aficionado que adorou.

39 – Teus honorários?

JCA: Depende muito do grau de dificuldade em relação às pinturas e desenho. Cada trabalho tem o seu valor em dinheiro ou sentimental, mas tem! Hoje minhas pinturas estão entre R$60.00(sessenta reais) e R$80.00(oitenta reais), lembrando que não tenho isso como uma profissão, pois represento uma empresa aqui de Piracicaba há 18 anos e tenho as pinturas como entretenimento.

AB: Aproximadamente R$ 200,00(duzentos reais), dependendo do trabalho. Todo trabalho tem um processo que inclui: tirar a pintura original, lixar a carroceria para tirar imperfeições da matriz produtiva e aplicar uma base aderente. Depois as pinturas que são as mesmas da indústria automotriz. Os decalques são desenhados e impressos especialmente para cada trabalho. Finalmente duas capas de verniz bicapa (laca PPG).

Se alguma vez o dono tem algum problema, o carro fica ralado ou precisa de ajuda com algum detalhe eu dou manutenção sem encargo. É parte do meu serviço.

40 – Nesse ramo de atividade, a pressa é realmente inimiga da perfeição?

JCA: Com certeza! Como já disse, você tem que viajar nas pinturas e estar em paz e tranqüilo do contrário o trabalho não fluirá de acordo com o que se espera.

AB: A pressa é perigosa, mas nem sempre inimiga. A verdade é que algumas vezes, especialmente em decorações artísticas, não pensar e deixar o pincel ir mais rápido que o pensamento, que o cérebro... é uma coisa boa.

Agora, os processos que precisam
maior tempo e atenção são sagrados, nunca devem ser apressados.

41 – Utilizas mais a tinta spray, aerógrafo, rolinho ou pincel?

JCA: Aerógrafo, às vezes um pincel para uns retoques.

AB: O aerógrafo é o mais utilizado, o pincel é para fazer pequenos detalhes e decorações artísticas.

42 - Tenho a impressão que na Argentina há uma disponibilidade maior, ou seja, a gama de produtos para a pintura de automodelos de fenda é mui superior as que existem no Brasil, estou enganado?

JCA: Confesso que não saberia avaliar.

AB: A disponibilidade é a mesma porque os produtos que eu uso são da indústria automotriz. E a indústria do Brasil e maior que aqui da Argentina. Brasil tem marcas como Glasurit, PPG e Dupont igual da Argentina. Talvez os preços aí sejam mais caros.

43 - Preferes mais cores metálicas ou brilhantes que as foscas?

JCA: Essa deve ser uma avaliação contundente, mas ao gosto do automodelista.

AB: Sim, as cores brilhantes e metálicas dão mais possibilidades e ajudam a destacar melhor o design do automodelo. Já fiz uma equipe de 3 autos de fenda em preto fosco, mas acho melhor as cores brilhantes.

44 – Melhor atender pessoa física ou jurídica?

JCA: Física, o atendimento é mais caloroso. Todos meus clientes se tornam meus amigos.

AB: Indiferente para mim. Presto a mesma atenção e as empresas com as quais trabalhei me deram a mesma liberdade de trabalho que as pessoas físicas.

45 – A faixa etária do cliente influencia de alguma maneira, quer nas sugestões ou aceitação?

JCA: Sim. Quando você realiza uma pintura para uma criança, você procura sempre colocar cores alegres da moda, inclusive os desenhos e decalques. Ao contrário dos adultos as cores devem ser conservadoras procurando deixar os carros o mais próximo possível dos carros de competição.

AB: Não, isso depende da personalidade de cada cliente.


Quem se interessar em acompanhar outros trabalhos do Adrián Blanco, basta acessar o seu site, clicando aqui

Enorê Brião Bragança

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