Vítima de atropelamento na última 3ª feira, pouco acima de onde morava, no centro de Goiânia, Avenida Araguaia; o músico de 84 anos de idade, Jenner Berquó Veloso, um dos pioneiros do Aeromodelismo em Goiás e também do Automodelismo de Fenda, desencarnou ontem em Goiânia e seu enterro será em poucos minutos no cemitério Santana, na região do bairro de Campinas, deslocando-se do Jardim das Palmeiras.
Seu pai, Joaquim Veloso Vieira, foi quem levou a primeira motocicleta possante e a primeira bola chamada de cobertão, feita em couro e com câmera de ar; a antiga capital, Villa Bôa, tinha essa grafia mesmo, depois passou a Goyáz e finalmente, cidade de Goiás, pelo menos é o que mostram os antigos apontamentos. Sua mãe, não menos adorável, Aracy Berquó Veloso, era uma mulher extraordinária de todas as virtudes e que vivenciava o amor, pelo menos, 24 horas por dia.
A princípio, por mais que desejasse, queria estreitar relações com o primo Jenner, não só pela admiração irrestrita que tinha por seus pais, mas porque ele comercializava aeromodelos, aqueles presos ao cabo de aço e conhecidos como U Control, planadores e outros com hélice impulsionada por elástico retorcido, além de tudo para Autorama. Era um Expert no assunto e chegou a ser homenageado por iniciativa do Jorge Vaz, o Jorginho, Edvaldo Roberto de Souza, o Bala; além da velha guarda do Autorama em Goiás, quando a SpeedWay era pouco acima da praça do sol.
Mas um acidente foi determinante para que nossa relação não fosse melhor ou ainda mais próxima durante minha infância e adolescência. Acho que em 1964 ou 65, na busca de obter um combustível que favorecesse aos aeromodelos com maior autonomia, evitando a necessidade de parar de voar para reabastecer e delongando o entretenimento, ao fazer uma solução, não me recordo bem, acho que acrescentou nitroglicerina, e transformou a mistura em um artefato explosivo que inclusive fez com que meu primo sobrevivesse sem a mão direita, tornando-se portador de deficiência física. Foi o suficiente para os arapongas da época quererem fichá-lo como subversivo, ainda mais que nosso tio, Urbano Berquó, abriu mão de concorrer a uma vaga no Senado pelo Partido Comunista do Brasil, creio que 1961, em favor de Juscelino Kubitschek de Oliveira que se elegeu por Goiás, aí já viram né? fizeram uma ligação esdrúxula e quase enquadraram o Jenner em um desses atos institucionais e na famigerada lei de segurança nacional.
Ele tocava trompa virtuosamente, mas quando chegávamos a casa de seus pais e também sede do seu comércio, ele paralisava imediatamente seus estudos. Um dia se justificou que tinha a impressão de que incomodava.
Já comprando carros de Autorama a prestação com o dinheiro da minha mesada, percebi que o Jenner tinha um raro sorriso comunicativo e bonito, como de sua mãe Dadá. Minha paixão pelo Autorama era tão grande que a querida Prima me presenteou com um Interlagos, quase que uma Réplica com chassis de plástico e pneus bitola fina.
Então resolvi falar de música e disse que um dia gostaria que tocasse algo de Mozart apesar de achar previsível, foi quando pensei que meus pais tinham razão ao avisarem para não puxamos qualquer assunto com ele, mas eles se referiam ao da perda da mão; pois mudou a feição, passou a mão esquerda percorrendo a mandíbula inferior e indagou:
- "Previsível"?
Com a boca seca emendei:
- "Sabes que em determinado momento vai acabar, ao contrário de Bach, mas minha predileção sempre foi Piotr Ilitch Tchaikovsky, principalmente abertura 1812".
Ele sorriu e disse:
- "Lembra teu pai. Bom gosto!"
Jenner deixa um casal de filhos, Paulo, do primeiro casamento, é técnico em eletrônica tem 49 anos e pratica aeromodelismo de Rádio Controle, e a filha Mariangela, 37 mas com jeitinho de adolescente, pedagoga concursada na Secretaria Municipal da Educação de Goiânia. Deixa também a viúva Crisolita.
Que DEUS possa confortar e acalentar o coração de todos, pois ele vive, a existência corporal é só uma de suas referências.
A princípio, por mais que desejasse, queria estreitar relações com o primo Jenner, não só pela admiração irrestrita que tinha por seus pais, mas porque ele comercializava aeromodelos, aqueles presos ao cabo de aço e conhecidos como U Control, planadores e outros com hélice impulsionada por elástico retorcido, além de tudo para Autorama. Era um Expert no assunto e chegou a ser homenageado por iniciativa do Jorge Vaz, o Jorginho, Edvaldo Roberto de Souza, o Bala; além da velha guarda do Autorama em Goiás, quando a SpeedWay era pouco acima da praça do sol.
Mas um acidente foi determinante para que nossa relação não fosse melhor ou ainda mais próxima durante minha infância e adolescência. Acho que em 1964 ou 65, na busca de obter um combustível que favorecesse aos aeromodelos com maior autonomia, evitando a necessidade de parar de voar para reabastecer e delongando o entretenimento, ao fazer uma solução, não me recordo bem, acho que acrescentou nitroglicerina, e transformou a mistura em um artefato explosivo que inclusive fez com que meu primo sobrevivesse sem a mão direita, tornando-se portador de deficiência física. Foi o suficiente para os arapongas da época quererem fichá-lo como subversivo, ainda mais que nosso tio, Urbano Berquó, abriu mão de concorrer a uma vaga no Senado pelo Partido Comunista do Brasil, creio que 1961, em favor de Juscelino Kubitschek de Oliveira que se elegeu por Goiás, aí já viram né? fizeram uma ligação esdrúxula e quase enquadraram o Jenner em um desses atos institucionais e na famigerada lei de segurança nacional.
Ele tocava trompa virtuosamente, mas quando chegávamos a casa de seus pais e também sede do seu comércio, ele paralisava imediatamente seus estudos. Um dia se justificou que tinha a impressão de que incomodava.
Já comprando carros de Autorama a prestação com o dinheiro da minha mesada, percebi que o Jenner tinha um raro sorriso comunicativo e bonito, como de sua mãe Dadá. Minha paixão pelo Autorama era tão grande que a querida Prima me presenteou com um Interlagos, quase que uma Réplica com chassis de plástico e pneus bitola fina.
Então resolvi falar de música e disse que um dia gostaria que tocasse algo de Mozart apesar de achar previsível, foi quando pensei que meus pais tinham razão ao avisarem para não puxamos qualquer assunto com ele, mas eles se referiam ao da perda da mão; pois mudou a feição, passou a mão esquerda percorrendo a mandíbula inferior e indagou:
- "Previsível"?
Com a boca seca emendei:
- "Sabes que em determinado momento vai acabar, ao contrário de Bach, mas minha predileção sempre foi Piotr Ilitch Tchaikovsky, principalmente abertura 1812".
Ele sorriu e disse:
- "Lembra teu pai. Bom gosto!"
Meus pais recomendavam que não deveríamos fazer indagações sobre a vida de ninguém, ainda mais em 1964, quando do golpe de estado que instaurou o regime militar que recebia ordem da CIA norte americana, ainda com o agravante das sequelas que ficaram no Primo, diga-se de passagem, um compositor de peças sinfônicas que fizeram o professor Krüll, que já foi apontado como um dos melhores flautistas do Brasil e veio transferido para a Universidade Federal do Estado de Goiás, incentivasse a execução dessas sinfonias e a dedicação de novas peças. Segundo seus filhos as peças estão todas arquivadas e não são poucas.
Depois do passamento de meu pai, as vezes ele me ligava dizendo que deveria desempenhar a incumbência que meu pai sempre teve, ser o contato de toda família. Também nessa relação meu pai é insubstituível!!
Depois do passamento de meu pai, as vezes ele me ligava dizendo que deveria desempenhar a incumbência que meu pai sempre teve, ser o contato de toda família. Também nessa relação meu pai é insubstituível!!
Que DEUS possa confortar e acalentar o coração de todos, pois ele vive, a existência corporal é só uma de suas referências.
Enorê Brião Bragança.
Postagens
A Família enlutada agradeçe.
ResponderExcluirPaulo Campos Veloso