Automodelismo de Fenda - Alberto Mario Ciliberto, criador do mítico circuito de Mônaco.


Esse artigo nos remete a literatura britânica, especialmente um livro de um irlandês chamado Jonathan Swift, autor que disserta sobre um cirurgião que aceita viajar pelos mares do sul a convite do Capitão Prichard, exatamente por ter poucos pacientes. Acontece um naufrágio e o Dr. Gulliver vai parar em um litoral em que ele é um gigante em relação aos seus habitantes. Depois de conviver certo tempo ali ele sente que é hora de retornar ao mundo normal e novamente, arrastado pelas ondas do mar, desta feita chega a uma praia em que ele é um ser minúsculo. Na 3ª tentativa consegue voltar definitivamente. O nome da obra é “As Viagens de Gulliver”.

Fixando a grade de proteção na Sainte-Devote, primeira curva quase de 90 graus após a largada, onde Senna ultrapassou ao Prost, com chuva.

Como sempre, acho que a honestidade é um bom princípio, então, desculpe-me pela franqueza, mas me sinto insignificante perante tamanha lição de vida e confesso, iniciei inúmeras vezes esse artigo e me senti frustrado em não transmitir a emoção que esse obstinado argentino faz com tanta naturalidade. Realmente, meu vocabulário e sentimento refletem minha impotência perante sua grandeza de espírito, repentinamente descobri um novo viés desse artigo, ou seja, que a pista é só um mero pequeniníssimo detalhe, como o professor Carlos Alberto Parreira comentou sobre o gol no futebol, Copa dos EUA, em 1998. Minha admiração se renova a cada contato com ALBERTO MARIO CILIBERTO, 46 anos de idade, natural de Quilmes, uma cidade de Bueno Aires, 22 Km/s do centro, 250 mil habitantes aproximadamente.

É uma antítese repleta de emotividade, uma aproximação de opostos, um Grande Prêmio legendário, riquíssimo e a realização de ter sua própria Mônaco itinerante e em exposição aberta ao público. Ele preferiria que a pista fosse utilizada mais para o entretenimento do que para a competição.


Essa é a filosofia de vida de Alberto Mario Ciliberto,“temos um dom, reflito sobre e minha observação e raciocínio lógico para criar o que eu quero, ordenando critérios: observação, interpretação, elaboração e ação.”
A saga desse visionário começa aos 33 anos de idade, vaticinando reproduzir o circuito de Monte Carlo, nas ruas do Principado de Mônaco, inaugurado com corridas em 1929. Projetava não só a pista, mas os elegantes prédios desse micro país de 02 mil m/s², situado no sul da França, Alpes Marítimos, e que faz costa com o Mar Mediterrâneo, um penhasco erguido sobre o mar e é governado há mais de sete séculos pela família Grimaldi, regime de monarquia, um paraíso fiscal e de jogatina com os cassinos. Constantemente visitado pelos europeus, o país praticamente tem 04 idiomas oficiais, se fala ingles, italiano, frances e o monegasco. Alberto Mario diz de outro atrativo, “quando vi o preço do aluguel para os três dias da corrida de F-1 em 2008, 8 º andar do Edifício GP, área VIP [1], € 11.000(onze mil euros) para 16 pessoas com refeição ao meio-dia. Nesse momento eu disse tenho que chegar a Mônaco! “, acabou tendo a sua própria.

Em uma simplicidade comovente, considera-se um reles bacharel quanto à formação acadêmica, mas é PHD em interagir entre pratica e teoria nos desafios da universidade da vida. Durante 11 anos conviveu com o temor de não realizar ou fazer de qualquer jeito o que o afastou de seu propósito de concretizar bem feito seu sonho.

Esse não é um simples artigo sobre uma maquete de automodelismo de fenda rica em seus pormenores e que funciona excepcionalmente muito bem, mas vamos perceber que se trata de vivenciar amor a vida e aos filhos, a esposa e as pessoas que o cercam. Tomou para si a oportunidade de exemplificar aos mais próximos que tudo é possível com a fé e persistência.


O "ingresso do túnel" em construção
Há uma tolerância entre o projeto e o inicio de sua execução, a idéia de construir um modelo de Mônaco começou em 1996, mas foi em 17/05/2008 que o universo tratou de conspirar a seu favor ao voltar a morar em Quilmes e o desejo de fazer algo que o surpreendesse serviu como estímulo. Igualmente importante, superar o receio do fracasso era força motriz para exemplificar o caminho da vitória e realizações para seus filhos.

Quer no frio ou calor argentino lá estava Alberto Mario a se dedicar a construção de toda a maquete.

Já pressionado em fazer a pista também para seu filho de pouco mais de ano à época, Juan Franco, Alberto tornou-se presença obrigatória nas pistas de fendas de toda a Argentina, tomando medidas com as palmas das mãos, na gíria castelhana se diz "Ojímetro”[2], anotava até nas embalagens de pão. Fez pistas que acabaram sendo alugadas para festas infantis, apontando o caminho a ser trilhado.

Dedicou cerca de 1.850 horas, ou seja, 77 dias e pouco mais de 08hs e todos os itens fabricados foram feitos com ferramentas manuais. Utilizou 26 kg/s de cola vinil, parafusos de 2500, 07 kg/s de cimento de contato, um sarrafo de madeira, chapas MDF 03 mm/s, 5,5 e 09 mm/s, papelão ondulado, pinturas de todos os tipos, 1m e 50 cm/s de cabo com 1,5 mm de diâmetro, 450 luzes LED, sem mencionar as 08 câmeras de circuito fechado que gravam tudo que se passa em cada trecho da pista. Ocupa 32m/s, são 11 m/s de largura, por 06 de comprimento e 1m e 70 cm/s de altura do piso, com o túnel medindo 03m/s e 80cm/s. Correm 04 automodelos analógicos por vez e podem ter a duração de 03 a 09 minutos, indicado para crianças com habilidades acima dos 06 anos. “Tudo funciona nessa réplica, saída de boxes, stands, edifícios, praças, área portuária, túnel e o cuidado para com ao meio ambiente, pois as árvores, ainda que de diorama [3], são de fundamental importância para combater a poluição sonora e melhorar a qualidade do ar”, descontrai Alberto Mario após essa revelação com um largo sorriso.

Maquete tomando corpo

Saída dos boxes e reta em curva da largada

Há quem se engane em imaginar que um ser humano com tamanha fibra esmorecesse. Nos momentos de estressante cansaço, apareciam mãos carinhosas e consoladoras trazendo o mate, lanches, e o beijo de cumplicidade da esposa que sempre o apoio e incentivou, Nancy, como também das filhas, as Marias Agustina e Nazarena, o filho não deixava de brincar em Mônaco nem na finalização de toda a maquete.

Em suas lucubrações ouvia a abertura das transmissões da rede globo, a trilha sonora do filme “Tommy” com o grupo The Who e a Orchestra Philarmonic de Londres. Lá estava como um gigante, interagindo entre a condição de criador e criatura, via no rosto do filho a realização de tudo conforme o planejado. A satisfação de largar e forçar a amizade no cotovelo, a curva Saint Devote, e avançando sobre a Bean Rivage derrama potência no motor, vez da Massenet com considerável redução, cutuca rapidamente o gatilho do acelerador e faz a curva do Cassino, logo chega na Mirabeua devagar, na sequência quase parando vem a curva do Hotel Loewes, retoma a velocidade em descida. Faz uma pausa e com olhar de gratidão fita a reação das filhas e da esposa. O brilho de seus olhos ressaltam nos delas também. O automodelo entra no túnel acelerando até a freada com redução forte para contornar o S da Chicane do Porto, enche a mão acelerando na região da Tabacaria, da vontade de acenar para as luxuosíssimas embarcações. Cuidado para não dar um mergulho forçado no S da Piscina, o carro sai de frente e arremessa a traseira, equilibra e já está na lentíssima Rascasse, faz a Anthony Nogh e cruza a linha de chegada.

“Eu venci e ainda acho que o projeto não terminou, tenho os láureos em meu pescoço e mente, bastou ver meus filhos e esposa orgulhosos do trabalho realizado pelo próprio pai e marido, amigos e pessoas que elogiam e até bajulam. Hoje posso gritar VITÓRIA! A relação criador e criatura é incessante e ora me dedico as articulações entre as 28 seções da pista como forma de aperfeiçoamento. Busco otimizar a montagem e desmontagem de toda maquete já que gasto perto de 48hs, ou seja, 02 dias em média”, sentencia Ciliberto que não é engenheiro, arquiteto ou projetista de interiores, mas se considera um bueno carpintero – bom carpiteiro.

Mas será que esse argentino irado pensou em tudo? Conferindo os detalhes da pista e maquete: São 350 espaços publicitários entre retas e curvas, zonas costeiras e portuárias, bancadas, praças e edifícios. Cartazes podem ser fixados nos itens de contenção e vedação. Em toda a estrutura que serve de alicerce e também cobertura da pista pode receber anúncios. Confeccionadas com a finalidade de transportar toda a maquete, 08 caixas dão conta de tudo, em bandejas revestidas de tapetes.

Segundo ele, “principalmente os Shoppings Centers contratam nossos serviços. Fazemos muita abertura de eventos, somos convocados na maioria das convenções sobre publicidade no esporte automotor, feira de brinquedos, dia das crianças, natal e até aniversários.”, se empolga Alberto que procura parceiros no Brasil para incrementar sua idéia, pois quer colocar uma maquete de cada sede do Mundial de F – 1 nos centros de automodelismo de fenda, abrindo espaço para todas as categorias correrem nesses traçados. Na Argentina tudo se encaminha para conquistar mais esse propósito.

Ele usa uma expressão muito comum nos países que tem o castelhano como idioma oficial e também na região do sul do Brasil para dizer de seu novo desafio, “quero construir Interlagos comemorando seus 70 anos e busco parceiros, portanto, MÃOS A OBRA", encerra o argentino ALBERTO MARIO CILIBERTO, que não é do atletismo, mas vence obstáculos com galhardia.

Perguntado sobre quais as execuções mais fáceis e difíceis ele responde:


-“Nenhuma, todos os resultados devem ser ter sua dificuldade a serem conquistadas, mas todos os dias eu sou apresentado com algo que eu tenho que resolver para continuar a criar e construir esses modelos. Quero me dedicar para realizar e construir todos os circuitos.

Tenho a idéia de uma Cadeia de Negócios com esse tema desenvolvido em shoppings centers onde cada um tem um circuito no calendário da F1, onde você pode fazer campeonatos entre eles, unindo assim a lugares diferentes. Já antecipando quanto ao custo, quando falamos de madeira para quadros, tecidos e tintas, você pode adicionar o valor de horas trabalhadas, mão de obra especializada, criatividade, execução etc. Eu não tenho um valor estimado, Nem os parâmetros no sentido de valor, ainda. “ concluiu ALBERTO MARIO CILIBERTO.
Para finalizar, esse artesão fala de seu espírito livre para criar e executar, graças ao sustentáculo familiar e que agora está determinado a fazer Interlagos.

Fonte: http://www.tiempomotor.com/

Contato com Alberto Ciliberto: maquetamonaco@gmail.com

[1] VIP, Very Important Personal – traduzindo do inglês, pessoa muito importante.

[2] Oji é por ‘ojo”, olho em castelhano, algo feito no olho, sem exatidão ou precisão de medidas

[3] Diorama – réplicas de parte ou de cidades inteiras com escala nitidamente inferior que o tamanho normal.
Agradecimento especial a Ludmila Bragança, responsável pela tradução da entrevista

Enorê Brião Bragança.

3 comentários:

  1. SHOWWWWWW A ENTREVISTA E A MATERIA !!!!!!!!
    ABS CORDIAIS
    RICARDO - LPA

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  2. Olá!
    Essa maquete é um sonho para tantas pessoas!!!
    Perto da minha hospedagem Buenos Aires havia um lugar para fazer um circuito como esse.

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